Um cacife de 13 vitórias em estreias

Com apenas duas derrotas e dois empates, o Brasil tem tradição de começar vencendo em Mundiais

João Máximo

Derrotas, foram apenas duas. Empates, outros tantos. Vitórias na base de muito suor, pelo menos cinco, uma delas dramática. Discutíveis, daquelas de fazer o adversário deixar o campo querendo linchar o árbitro, também duas vitórias por placar modesto, mas sem discussão, meia dúzia. Goleadas para ninguém botar defeito, quatro. Enfim, houve um pouco de quase tudo nas estreias nas 17 Copas do Mundo que disputou (o único país a se fazer presente em todas). Resta saber em qual categoria vai inserir a estreia contra a Croácia.

As duas derrotas foram justamente nas duas primeiras Copas do Mundo. Quer dizer, no tempo da bola marrom, dos uniformes deselegantes e das chuteiras que não causavam bolhas. Nas duas ocasiões, mandaram-se a Montevidéu (1930) e a Gênova, Itália (1934), seleções brasileiras não representativas. Na primeira, porque cariocas e paulistas brigaram para saber quem deveria escalar a seleção. Como os cariocas ganharam a parada, os paulistas negaram-se a ceder seus jogadores. Resultado: Iugoslávia 2, Brasil 1, uma estreia que valeu por uma despedida. Os brasileiros queixaram-se do frio (como se desconhecessem a temperatura de Montevidéu em junho) e do cansaço (tinham viajado num confortável navio); A não ser Preguinho, autor do gol brasileiro, e Fausto dos Santos, cognominado ali “La maravilla negra”, nada salvou naquela seleção.

 Em 34, a conta da derrota foi a jogada nas costas do juiz

Quatro anos depois, foi ainda pior. O futebol brasileiro vivia os primeiros anos da chamada cisão profissionalizante, armadores de um lado e falsos armadores do outro. A seleção ficou por conta dos últimos e, embora contasse com craques como Leônidas da Silva, Waldemar de Brito e Patesko, perdeu para a Espanha por 3 a 1 e viajou de volta para o Brasil. A queixa, desta vez, foi a arbitragem, que não teria visto um beque espanhol salvar um gol, com a mão, em cima da linha. Walfemar perdeu um pênalti, defendido por Zamora, que, disfarçado. Teria visto o atacante brasileiro treinar cobrança na véspera do jogo. Tudo em Zamora tem jeito de lenda. Não é por outro motivo que, recentemente, em jornal alemão, o goleiro Sepp Maier, campeão mundial em 1974, nascido dez anos depois de o espanhol ter pendurado as chuteiras, apontou Zamora como um dos dez maiores de todos os tempos.

A vitória dramática foi na estreia contra a Polônia, em Estrasburgo (1938): 4 a 4 no tempo normal e 2 a 1 na prorrogação. Era um gol lá, outro cá. Três de Leônidas, e a passagem brasileira para as quartas-de-final. Uma estreia que o país acompanhou pelo rádio, surpreendendo-se com o fato de uma equipe desacreditada começar a ser descoberta pela Europa como a nova força do futebol mundial, o que o terceiro lugar na Copa confirmaria.

Outras vitórias difíceis foram d as de 2 a 1 sobre a União Soviética, em Sevilha, Espanha (1982), 1 a 0 sobre a Espanha, em Guadalajara, México (1986), 2 a 1 sobre a Escócia, em Paris (1998) e 2 a 1 sobre a Turquia, em Munsu, Coreia do S8l (2 a 1). Dessas, as duas primeiras foram também discutíveis. Em Sevilha, o desastre defensivo brasileiro, com Valdir Perez e Luisinho não fazendo um décimo do que se esperava deles, teve como compensação, a benevolência do árbitro espanhol que não marcou pelo menos um pênalti claro contra o Brasil. E em Guadalajara, definitivamente, aquela bola do gol da vitória, de Sócrates, não entrou. Para sorte brasileira, o árbitro austríaco confundiu travessão com rede.

A era Lazaroni, em 1990, começou mal e acabou ainda pior

A seleção brasileira não jogou bem em nenhuma das três outras vitórias apertadas. Em  Turim, a era Lazaroni começou mal e acabou pior. Em Paris, o Brasil foi salvo por um gol contra de um zagueiro escocês. Em Munsu, precisou de um pênalti para derrotar a Turquia. Os futuros pentacampeões só acertariam mesmo, depois.

Claro, houve vitórias tranquilas, sem susto, como as duas sobre o México. 4 x 0 no Maracanã (1950) e 5 a 0 em Genebra (1954). É fato que houve um primeiro tempo preocupante, 0 a 0, na terceira estreia contra os mexicanos, esta em Viña del Mar (1962), mas o segundo tempo foi todo brasileiro: 2 a 0. E é fato, também, que houve um quase susto em Guadalajara (1970), quando a Tcheco-Eslováquia fez um gol aos 11 minutos. Mas o que valeu foi placar final: 4 a 1. Estreavam ali os tricampeões.

Vitórias sem discussão foram de 3 a 0 sobre a Áustria, em Udevalla, Suécia (1958) 2 a 0 sobre a Bulgária em Liverpool, Inglaterra (1966). ma última vez em que Garrincha e Pelé jogaram juntos, cada um marcando um gol; e de 2 a 0 sobre a Rússia em São Francisco (1994).

Quanto aos dois empates, ressalte-se que, pelo menos para o torcedor brasileiro, empate em Copa do Mudo tem sempre o sabor de derrota. Afinal, desde que o Brasil empatou com a Suíça em 1950 (na segunda partida, com vaias e bandeiras brasileiras rasgadas no Pacaembu). Parece que, quaisquer que sejam os 11 em campo, a seleção tem sempre a obrigação de vencer. No entanto, os empates de 0 a 0 com a Iugoslávia em Frankfurt, Alemanha (1974, no jogo que abriu oficialmente aquela Copa), e de 1 a 1 com a Suécia em Mar del Plata, Argentina (1978), realmente funcionaram como trailers do que o Brasil faria em seguida, por mais que numa a eliminação viesse em derrota para a Holanda, a atração da décima Copa, e que a medíocre seleção de Cláudio Coutinho se achasse no direito de intitular-se “campeã moral” da 11ª.

Essas memórias servem apenas para provar o óbvio: pode-se esperar de tudo, neste jogo com a Croácia. De preferência, mais uma vitória para se somar às 13 já conquistadas, merecidamente ou não.

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