É muito comum ver, ler e ouvir na imprensa que tal jogo será uma guerra. Mas quem viveu bem isso na pele foram três jogadores em especial, um do Flamengo e dois do Botafogo, convocados pelo Exército Brasileiro para lutar na Segunda Guerra Mundial. O rubro-negro Perácio foi o primeiro. Em março de 1944, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviou para a Itália 5.379 homens. Um deles era o atacante que tinha 30 anos.
O segundo grupo partiu em 22 de setembro do mesmo ano com 25.335 homens, entre eles o alvinegros Geninho e Walter. Os clubes tentaram de tudo para evitar a ida dos atletas, mas não adiantou, apesar dos protestos dos torcedores. As forças brasileiras já haviam aprisionado 68 alemães naquela guerra.
A missão deles não foi lutar na linha de frente. No 5º Exército, eles trabalharam como motoristas do comando oficial. Em 22 de agosto do ano seguinte, os três voltariam ao Brasil são e salvos. A mesma sorte não tiveram 430 pracinhas e 13 oficiais, todos brasileiros mortos neste curto período.
– Aqui estamos, graças a Deus, com saúde e querendo ainda mais o nosso Brasil. Tomara Deus que nunca mais tanhamos de sair do país para esse fim – desabafou Geninho na chegada, no porto do Rio.
Dos três, o rubro-negro Perácio e o alvinegro Walter voltaram acima do peso. Talvez pelo tédio após o cessar-fogo. Geninho, que participou de muitas peladas na Itália, retornou em forma e, na chegada ao Brasil, pediu para voltar ao Botafogo já na próxima partida. Mas recebeu o ‘não’ pela folga merecida.
Curiosamente, Flamengo e Botafogo foram adversários antes da ida e logo depois da volta dos atletas. Em 1944, no dia 10 de setembro, o Alvinegro goleou por 5 a 2 em General Severiano. Em protesto contra a arbitragem, ops jogadores do Flamengo sentaram no gramado. ‘Foi o famoso jogo do senta’. Eles reclamaram muito de um chute justamente de Geninho, que fazia sua despedida da guerra.
Segundo algumas versões, a bola teria batido no travessão e pingado fora do gol, mas a arbitragem validou o lance, o quinto gol do Botafogo. No entanto, o leitor José Domingos Raffaeli, que estava no jogo, garante que a bola entrou: ´´Na verdade, o fortíssimo chute do Geninho bateu no ferro de sustentação da rede do gol e voltou pela força do chute. Foi gol sem qualquer dúvida“. lembra o atento leitor.
Os jogadores do Fla ficaram sentados enquanto os botafoguenses tocavam bola até o tempo regulamentar acabar e o juiz Aristides Figueira, o Mossoró, apitar o fim. Os gols foram marcados por Heleno de Freitas (dois), Valsechi, Walter e Geninho.