Quando o futebol brasileiro começou a se preparar para a sexta Copa do Mundo – a realizar-se no verão sueco de 1958 – Didi ainda não era o titular absoluto da seleção, poucos levaram a sério os dribles de Garrincha, não se sabia que havia no ataque do Bauru Atlético Clube um garoto chamado Pelé e Vicente Ítalo Feola cumpria modestamente o papel de eterno substituto de treinadores no São Paulo. Dos quatro, Didi era o único que podia pelo menos pensar em ir à Suécia. A principal ameaça à sua condição de titular, Zizinho, estaria com 37 anos em julho de 1958. O corinthiano Luisinho, mais moço, bom de bola também, não tinha sua experiência. E Walter Marciano, outro possível concorrente, já estaria vestindo a camisa do Valencia espanhol (naqueles tempos, a seleção brasileira podia se dar o luxo de dispensar craques que estivessem atuando por clubes do exterior).
Começou a se preparar, no caso é a expressão imprecisa, baseada na crença de que os preparativos da seleção brasileira para uma Copa do Mundo têm início logo que a anterior termina. Poucas vezes isso terá sido tão falso como no período entre 1954 e 1958. Da derrota para a Hungria em Berna até a estreia contra a Áustria em Uddevalla, a seleção brasileira fez 58 jogos, dos quais apenas 15 tiveram algo a ver com o que a aguardava em sua sexta tentativa de ser campeã mundial.
Para dirigi-la nos 48 jogos, foram chamados sete diferentes treinadores. Houve uma seleção só com profissionais do Rio, outra só com os de São Paulo, uma terceira só com os de Porto Alegre e uma quarta só de jogadores de América e Bangu, tão pouco respeitada que a irreverência do torcedor a batizou de seleção suicida. Foram dois Sul-Americanos perdidos: o de 1956, em Montevidéu, ganho pelo Uruguai dos remanescentes Miguez e Rodrigues Andrade, e o de 1957, em Lima, vencido pela Argentina dos jovens Maschio, Sivori e Angelillo.
Nas duas ocasiões, o treinador brasileiro foi Osvaldo Brandão. Aproveitando a viagem, assim que o torneio acabou, lá mesmo, em Lima, Brasil e Peru se enfrentaram na primeira das duas partidas que apontariam qual dos dois iria a Suécia; Resultado: 0 a 0. No jogo de volta, uma semana depois, no Maracanã, 1 a 0, graças ao gol com o qual Didi, classificando o Brasil, consagrou sua folha seca.
HAVELANGE MUDA O JOGO
Essa alternância de treinadores e formações evidenciava a inexistência de um projeto visando à Copa do Mundo de 1958. A Confederação Brasileira de Desportos (CBD) tinha novo presidente desde os primeiros dias de 1955: Sílvio Pacheco. Novo presidente, velhas ideias. A seleção brasileira, que se pretendia permanente, continuava sujeita a improvisações ditadas pelas circunstâncias, ora as Taças O’Higgins e Osvaldo Cruz, ora Copa Rocca ou os Sul-Americanos, ora amistosos marcados com pouca antecedência ou um desprestigiado PanAmericano conquistado no México, com uma base Grenal montada por José Francisco Duarte Jr., o pelotense Teté.
Dos sete treinadores em cujas mãos a CBD entregou a seleção, o mais cotado para ir à Copa era o veterano Flávio Costa. Ou seja, exatamente o mesmo da “tragédia de 50”, na qual seu maior erro fora a desatualização quanto aos sistemas de jogo e aos tipos de marcação. Isso. mais a teimosia, atributo de todo treinador. Porém, nele mais grave na medida em que, a ter de optar entre um homem de confiança e um jogador tecnicamente superior, Flávio ficava sempre primeiro.