Brasil e Tchecoslováquia dão um show de futebol ao pé da Cordilheira dos Andes
Duas e meia da tarde. Estádio Nacional de Santiago do Chile. É dia de final. Tchecos e brasileiros decidem a Copa do Mundo de 1962.
Sol de verão no recorte glacial da cordilheira. O público aplaude a equipe tcheca que entra em campo desfraldando na porta dos dedos a bandeira do Chile. Na fria recepção à seleção do Brasil, percebe-se uma ponta de ressentimento pela derrota do Chile, na semifinal.
Começa a partida. O time brasileiro é pura cautela. Tática de quem procura atrair o adversário para vencê-lo em contragolpes. Os tchecos mordem a isca e atacam em bloco,maciçamente, fazendo abola correr de pé em pé.
A Tchecoslováquia imprime ao jogo sua cadência de maquina bem azeitada. Seu futebol é precioso. Precioso e objetivo. Merece, pois, o gol que assusta o Brasil. Um gol sem arabescos, feito pelo melhor jogador da equipe, o sóbrio Masopusti, um volante do maior respeito.
Nilton Santos apanha a bola no fundo da rede, repetindo gesto de Didi na final de Estocolmo. Leva-a debaixo do braço até o centro do campo, com ar de confiança que, certamente, vai animar os companheiros para a arrancada do gol de Amarildo – que incendeia definitivamente o time.
O segundo gol do Brasil está nascendo. Amarildo executa um drible suave no zagueiro. A bola fica-lhe à feição para um chute curto de pé direito. O goleiro espera o chute. Mas sabe o goleiro que Amarildo é um canhoto integral. Em vez do chute, sai um passe alto, quase um centro, que vai encontrar Zito em pleno ar, os dois braços abertos, os músculos contraídos pra cabeçada triunfal. É o oitavo gol gol de cabeça da equipe brasileira nesta Copa do Mundo de defesas cerradas, zagueiros altos, corpulentos e vigilantes.
Foi um jogo admirável. Um belo espetáculo, sem comédias, nem tragédias, nem farsa; jogo maduro, sem maldades. Uma final entre dois fidalgos. Quem me dera todas as Copas terminassem no padrão técnico que alcançaram as seleções do Brasil e da Tchecoslováquia.
Mais de cem torcedores brasileiros invadem o campo, aos pulos, em delírio. No centro do campo Pelé dá um beijo na testa de Amarildo. Castilho vem ao encontro de Vavá. Um torcedor enfia um boné na cabeça de Garrincha. Zagallo desmaia nas mãos de Altair e do médico Hilton Gosling. Zito corre para todos os lados, como um menino, dando murros no ar.
Carabineiros estendem uma corda diante da tribuna de honra. Ao centro o palanque as autoridades oficiais da FIFA e a Taça de Ouro ´´Jules Rimet“ nas mãos de Sir Stanley Rosa.
– Levanta a taça! – gritam os fotógrafos. Mauro resiste, segurando a taça com as mãos em concha à altura do peito. Na hora do embarque para o Chile, ainda no aeroporto do Rio, o piloto Guilherme Bungner, comandante do avião pergunta ao ´´Capitão“ Mauro se ele estava pronto para levantar a taça com o mesmo gesto consagrado na Suécia. Mauro cumpre a palavra.
Encerra-se a VII Copa do Mundo, com o ato simbólico do arreamento da bandeira do Chile. Em seguida, campeões e vice-campeões fazem a volta olímpica, saudando o público.
O último a deixar o campo do Estádio Nacional de Santiago é Garrincha, que corre acenando um festivo adeus com a mão direita. Um locutor chileno cerca-o na boca do túnel e pede uma breve entrevista ´´al micrófono para sus despedidas “
Garrincha se despede:
-Adeus, micrófono…