JORNALISMO ESPORTIVO

É difícil pensar no jornalismo esportivo sem as tecnologias que possuímos atualmente. Temos transmissões com imagens e áudio em tempo real, com profissionais “in loco” independentemente de onde aconteça o evento. Mas nem sempre foi assim.

Para compreender o início de tudo que podemos acompanhar hoje em relação ao esporte é preciso voltar algumas décadas. Segundo Fonseca (1997) o jornalismo esportivo tem mais de cem anos. As pequenas notas sobre esporte foram se tornando artigos mais elaborados sobre as modalidades praticadas em cada época.

Silveira (2009) afirma que o primeiro jornal esportivo surgiu em 1828, em Paris, na França, o Journals des Haras. Em 1852, surgiu o primeiro jornal apenas de esportes com circulação diária, na Inglaterra, o Sportman. A primeira revista surgiu quatro anos depois, em 1856, na Espanha, El Cazador.

Nem sempre o futebol, principal esporte explorado pelos veículos de comunicação atualmente, teve toda a visibilidade que possui hoje. Isso é o que garante Fonseca (1997).

A primeira área esportiva a receber uma cobertura mais elaborada dos veículos impressos foi o hipismo, em meados do século XIX, na França. A grande imprensa só abriu espaço em 1875, num momento de mudanças sociais e de crescimento de esportes populares, pois, até então, só se registravam notas sobre o boxe, iatismo e esgrima. Por isso, os pioneiros do jornalismo esportivo surgiram nos jornais populares. (FONSECA, 1997)

NO BRASIL

            O início do jornalismo esportivo no Brasil não foi fácil. Existia um grande preconceito com as modalidades. O futebol, que ainda não estava consolidado no país, tinha menos espaço que o basquete, o vôlei e o remo.

            O futebol começou a ganhar certo espaço em 1910. O jornal Fanfulla, de São Paulo, passou a escrever para os italianos que viviam na capital paulista. Esse pode ser considerado um dos primeiros jornais que tratavam do futebol no Brasil, tanto que o periódico ainda é usado como fonte de pesquisa sobre os primeiros passos do esporte no país.

Aos poucos o Fanfulla passou a ampliar suas publicações esportivas. O esporte foi ganhando cad vez mais espaço, mesmo com preconceito que ainda havia nas redações, como relata Paulo Vinicius Coelho.

 Não existia o que se pode chamar hoje de jornalismo esportivo. Mas não fossem aquele relatos e ninguém jamais saberia, por exemplo, quando e qual foi o primeiro jogo do velho Palestra. Nem do velho Corinthians, nem do Santos, nem que o futebol do Flamengo só nasceu em 1911, apesar de o clube ter sido fundado para a prática do remo 16 anos antes. A primeira cesta no Brasil, o primeiro saque. Tudo foi registrado. Tudo meio a contragosto. Porque nas redações do passado – e isso se verifica também hoje em dia – havia sempre alguém disposto a cortar uma linha a mais dedicada ao esporte. (COELHO, Paulo Vinícius)

            Foi no Vasco da Gama, onde o futebol ultrapassou a barreira social e racial e atingiu novas classes. Foi lá também onde surgiram os primeiros jogadores negros. Historicamente excluídos pela sociedade brasileira, os negros foram fundamentais na popularização do esporte no Brasil. Com a presença dos mesmos como personagens nas páginas dos diários esportivos, a popularização se deu de forma contínua.

            Criado pelo jornalista Mário Filho, nos anos 1930, o Jornal dos Sports foi o primeiro diário do Brasil que se dedicou exclusivamente aos esportes. Coelho (2004) lembra que o jornalismo esportivo não era o mesmo que se vê hoje. “Mas não fossem aqueles relatos ninguém jamais saberia, por exemplo, quando e qual foi o primeiro jogo do velho Palestra.”

NARRAÇÃO NO RÁDIO

            O esporte também não teve vida fácil no rádio. Silveira (2009) aponta que apenas depois do crescimento do esporte na mídia impressa, o rádio também passou a investir nessa área, mas no início com muita dificuldade. Os radialistas ainda eram proibidos de transmitir os eventos ao vivo dos locais onde aconteciam.

            O rádio foi uma importante ferramenta na afirmação do jornalismo esportivo. Em “Rádio x TV: O Jogo da Narração”, Márcio Guerra conta como foi a primeira transmissão de futebol pelo veículo.

“Foi na oitava edição do Campeonato Brasileiro de Futebol, na partida entre as seleções de São Paulo e Paraná, que aconteceu a primeira transmissão de um jogo de futebol da forma como se conhece hoje. Era o ano de 1931 e Nicolau Tuma, locutor da Rádio Educadora Paulista, recebeu a missão de transmitir o espetáculo que tanto interesse esteva despertando nas pessoas. Erá o rádio reconhecendo a importância do futebol e vendo ali uma possibilidade de ampliar seu campo de ação.” (GUERRA, 2012, p.25)

            Marcio Guerra (2012) ainda relata que desde que começou a transmitir esportes, o rádio explorou a paixão do torcedor em suas transmissões.

“O Brasil entra nos anos 30 diante de um grande fenômeno de cultura de massas. O rádio é apresentado como um dos instrumentos que vai promover a integração nacional e o futebol, que vinha se tornando mania nacional, poderia perfeitamente contribuir com isso também. A política, em toda essa história do desenvolvimento do rádio e futebol no país, se aproveitou muito da paixão do torcedor.”  (GUERRA, 2012, p.28)

Ainda segundo Marcio Guerra (2012) foi na década de 40 que nasceu no Brasil a primeira rádio dedicada exclusivamente aos relatos esportivos.

Em 1940 é fundada a Rádio Panamericana, hoje conhecida como Jovem Pan. Ela tem um papel importante na história da transmissão esportiva pelo rádio. Foi a primeira emissora a se especializar em esportes. Criou seu departamento de esportes e trouxe, entre outras novidades para a narração do futebol, a figura do comentarista de arbitragem (Flávio Lazetti – “o juiz do juiz” – foi o primeiro a analisar os árbitros). Também foi a Pan que criou o seu plantão esportivo (profissional que atua nos bastidores, no estúdio, acompanhando outros jogos e dando suporte para a transmissão). Pedro  Luiz foi quem deu a ideia e Narciso Vernizi foi o primeiro a ocupar a função.”  (GUERRA, 2012, p.30)

NARRAÇÃO NA TV

            A TV surge como um importante meio para a consolidação do jornalismo esportivo no Brasil. Bretones (2010) afirma que foi em 1950 que a primeira reportagem de televisão foi gravada em um jogo de futebol. Na partida entre Portuguesa e São Paulo. Esse episódio também é considerado um marco importante nas transmissões esportivas no Brasil. 

            Entretanto Guerra (2012) mostra que esse processo de solidificação encontrou algumas barreiras, principalmente em relação à linguagem e a concorrência com o rádio.

“As primeiras partidas transmitidas pela televisão eram consideradas sem muita emoção, monótonas. Isso era atribuído ao fato de os locutores tentarem dar uma nova forma de narração, que diferenciasse do rádio. Além disso, havia o fato dos primeiros recursos (duas câmeras, normalmente) para a cobertura de um jogo serem considerados limitadores da responsabilidade de imagens e de alternativas para a narrativa, sempre presa ao que o telespectador estava vendo.” (GUERRA, 2012, p.93)

            Com o recurso das imagens nas transmissões, acontece uma grande mudança no fazer jornalistico. A fantasia do rádio da lugar a veracidade da TV. Coelho (2003), fala sobre a mudança que ocorreu em 1970.

 “A imprecisão diminuiu bastante dos anos 1970 em diante, graças ao compromisso da imprensa de contar a verdade. A maneira como o Jornal da Tarde, em São Paulo, fazia jornalismo, ajudou a excluir o mito. O resultado é, muitas vezes, uma crônica tão desprovida de paixão que é capaz de jogar na vala comum alguns atletas que certamente já merecem lugar na história. (COELHO, 2003,p. 19)

HISTÓRIA SPORTV

            No dia 11 de novembro de 1991, as organizações Globo inauguraram, na rua Itapiru, bairro do Rio Cumprido, no Rio de Janeiro, a Globosat, primeita TV à cabo do Brasil. Isso foi relatado no documentário “Globosat 25 anos: conheça a história do surgimento da primeira TV por Assinatura do Brasil”, exibido no SporTv no dia 22 de novembro de 2016.

            Foi nesse cenário, que a emissora inaugurou também o primeiro canal exclusivamente de esportes do Brasil: o “Top Sport”. E era naquele momento que a historia do SporTV começaria, é o que garante Pedro Garcia, diretor de esportes da Globosat: “O SporTV nasce com o Top Sport. E o Top Sport tinha o desafio de fazer um canal 24 horas de esporte no Brasil.”

           Nesse mesmo documentário, Manduka Nogueira, ex-gerente do Top Sport e do SporTV lembra: “Era a decolagem de um voo que a gente não sabia para onde iria. A equipe rondava entre 20 e 25 pessoas. Eram narradores, locutores, produtores, editores e a chefia executiva.”

            O início não foi nada fácil, não tinha o glamour conquistado pela empresa anos depois. Narrador do canal desde sua criação, Sergio Mauricio recorda: “Não havia uma estrutura física de pessoas nem de local para a gente trabalhar. A gente dividia espaço com o GNT, mas ficavamos com apenas um quarto da sala.”

            Com poucos recursos, o canal era obrigado a buscar parcerias fora do Brasil para a preencher a grade do canal, Pedro Garcia detalha como eram os primeiros programas transmitidos pelo Top Sport: “A gente tinha uma parceria com uma empresa dos Estados Unidos, que mandava muito material para a gente, mas a grande maioria era de esportes americanos.”

            A principal dificuldade do canal estava exatamente nesse ponto, a grande maioria dos eventos transmitidos não atendia a demanda do país, Pedro Garcia continua: “Eram produtos muito desinteressantes para os desejos do telespectador brasileiro. Várias horas de futebol americano college, basebol college e até mesmo o bizarro lacrosse.”

            Menos de 1 ano após o surgimento, a Top Sport conseguiu transmitir os jogos de inverno de Albertville, em 1992. O desinteresse do público brasileiro, refletia também nos funcionários do canal. O desconhecimento das regras do esporte dificultaram a vida de quem trabalhava no Top Sport. É o que afirma a ex-apresentadora do canal, Ana Luiza Prudente: “Com todo tipo de esporte, de competição que eu nunca tinha visto na vida e tendo que narrar aquilo. Eu fazia aquela narração bem básica”

            Mas alguns esportes, mesmo muito desconhecidos, tinham uma audiência considerável para a época, afirma Sergio Mauricio: “O curling eu nem conhecia, mas tive que narrar. Mas foi um esporte que teve uma audiência surpreendente.”

             Se todas as transmissões do jogos de Albertville foram feitas aqui do Brasil, um marco para o canal aconteceu apenas 5 meses depois. Quando o Top Sport enviou uma equipe para um evento internacional: A Olimpíada de Barcelona.

Presente na viagem á Espanha, Leila Almeida, editora executiva do canal SporTV recorda das dificuldades encontradas devido ao número reduzido de pessoas que foram para Barcelona, apenas 3 pessoas: “A gente tinha que editar tudo, mandar material…Nós íamos para os locais de competições, sem repórter, sem nada. Ainda por cima era tudo por fax.”

Devido ao pioneirismo do canal, era muito difícil encontrar mão de obra qualificada e principalmente com alguma experiência. Um dos principais narradores do SporTV hoje, Luiz Carlos Júnior fala do inicio do canal: “Muita coisa era improvisada. Muita gente era verde ainda, como eu. Narradores de primeira viagem, que estavam começando suas carreiras.”

 Mas o Top Sport não foi precursor apenas nas transmissões esportivas. Foi no canal, e sob comando da repórter Glenda Kozlowski, que foi ao o “360 Graus” inaugurando no canal o modelo de coprodução: “Eles queriam falar de esporte de uma forma muito inovadora. Tanro que eles chamaram uma surfista para apresentar um programa. Isso há 25 anos. Eu não sabia entrevistar alguém, não sabia como perguntar… Eu não sabia nada.” revela Glenda.

O talento de Glenda já foi percebido pelos fundadores do canal, logo nos primeiros anos da emissora. Foi dessa maneira que a repórter iniciante se tornou apresentadora, ainda nas olimpíadas de Barcelona, fato que pegou ela de surpresa: “Eles eram tão loucos que me colocaram para apresentar um jornal. Era um Olimpiada. Eu olhava para aquilo e me pergunta por que eu estava ali.”

O documentário também relata uma grande conquista do canal, que aconteceu em 1994, quando foi oferecido aos assinantes, 3 jogos por dia, na primeira fase da Copa do Mundo dos Estados Unidos.

Com o crescimento da TV à cabo no país, em 1995, o Top Sport teve que se reinventar. Foi nesse momento que nasceu o SporTV: “A gente desenhou uma nova grade de programação. Uma programação de 24 horas, 7 dias por semana. Com bastante evento no ar e uma pegada bem mais nacional.”

Foi no surgimento do do SporTV, que apareceu pela primeira o logo que jamis seria esquecido pelo canal e que foi definido pelo documentário como uma “definição emblematica” SporTV – O Canal Campeão.

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